De regresso a Goa, o navio em que Luís de Camões viajava sofreu um naufrágio na foz do rio Mecom, na costa do Camboja. Camões salvou-se, nadando só com um braço e com o outro erguendo por cima das ondas, o precioso manuscrito da imortal epopeia – facto documentado no canto X, 128:
“Este receberá, plácido e brando,
No seu regaço os Cantos que molhados
Vêm do naufrágio triste e miserando,
Dos procelosos baxos escapados,
Das fomes, dos perigos grandes, quando
Será o injusto mando executado
Naquele cuja Lira sonorosa
Será mais afamada que ditosa.”
No seu regaço os Cantos que molhados
Vêm do naufrágio triste e miserando,
Dos procelosos baxos escapados,
Das fomes, dos perigos grandes, quando
Será o injusto mando executado
Naquele cuja Lira sonorosa
Será mais afamada que ditosa.”
Nesse naufrágio viu morrer a sua Dinamene, uma rapariga chinesa que se lhe tinha afeiçoado. Então, em sua honra, Camões escreveu um dos seus sonetos mais bonitos, cuja primeira quadra é:
“Alma minha gentil que te partiste
Tão cedo desta vida descontente
Repousa lá no céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.”
Tão cedo desta vida descontente
Repousa lá no céu eternamente,
E viva eu cá na terra sempre triste.”
Em Goa sofreu caluniosas acusações, dolorosas perseguições e duros trabalhos, vindo Diogo do Couto a encontrá-lo em Moçambique, em 1568, “tão pobre que comia de amigos”, trabalhando “Os Lusíadas” e o seu “Parnaso” – livro de muita erudição, doutrina e filosofia, segundo o autor.