“Os Lusíadas” é considerada a epopeia portuguesa por excelência. O título sugere intenções nacionalistas, e é derivado da antiga denominação romana de Portugal, Lusitânia. É um dos mais importantes épicos da época moderna devido à sua grandeza e universalidade. A epopeia narra a história de Vasco da Gama e dos heróis portugueses que navegaram em torno do Cabo da Boa Esperança e abriram uma nova rota para a Índia. É uma epopeia humanista, de contradições, nas associações da mitologia pagã à visão cristã, nos sentimentos opostos sobre a guerra e o império, no gosto do repouso e no desejo de aventura, na apreciação do prazer sensual e nas exigências de uma vida ética, na percepção da grandeza e no pressentimento do declínio, no heroísmo pago com o sofrimento e luta.
Imagem anónima de 1880, onde Tétis preside ao banquete das ninfas e dos portugueses na Ilha dos Amores |
Os dez cantos do poema somam 1102 estrofes, num total de 8816 versos decassílabos, empregando a oitava rima. Depois de uma introdução, uma invocação e uma dedicatória ao rei Dom Sebastião, inicia a acção, que funde mitos e factos históricos. Vasco da Gama, navegando pela costa da África, é observado pela assembleia dos deuses clássicos, que discutem o destino da expedição, a qual é protegida por Vénus e atacada por Baco. Descansando por alguns dias em Melinde, a pedido do rei local Vasco da Gama narra toda a história portuguesa, desde as suas origens até à viagem que empreendem. Os cantos III, IV e V contêm algumas das melhores passagens de todo o épico: o episódio de Inês de Castro, que se torna um símbolo de amor e morte, a Batalha de Aljubarrota, a visão de Dom Manuel I, a história do gigante Adamastor. De volta ao navio, Baco convoca os deuses marítimos para que destruam a frota portuguesa. Vénus intervém e os navios conseguem alcançar Calecute, na Índia. Na viagem de volta os marinheiros desfrutam da Ilha dos Amores, uma ilha para eles criada por Vénus, recompensando-os as ninfas com seus favores. Uma delas canta o futuro glorioso de Portugal e a cena encerra com uma descrição do universo feita por Tétis e Vasco da Gama. Em seguida, a viagem prossegue para casa.
Em “Os Lusíadas” Camões atinge uma notável harmonia entre erudição clássica e experiência prática, desenvolvida com habilidade técnica, descrevendo as peripécias portuguesas com momentos de grave ponderação e outros de delicada sensibilidade. As grandes descrições das batalhas, da manifestação das forças naturais, dos encontros sensuais, transcendem o clássico e apresentam um discurso fluente e sempre de alto nível estético. Trata-se de um discurso com carácter narrativo bem conseguido, com domínio de todos os recursos da língua e da arte da rima, e com uma ampla gama de estilos.
Capa de "Os Lusíadas", de Luís de Camões |