O conteúdo geral das obras de Camões para o palco combina o nacionalismo e a inspiração clássica. A sua produção neste campo resume-se em três obras, todas no género da comédia e no formato de auto: “El-Rei Seleuco”, “Filodemo” e “Anfitriões”. Contudo, a atribuição do “El-Rei Seleuco” a Camões, porém, é controversa. A peça diverge em vários aspectos das outras duas que sobreviveram, tais como na sua extensão, bem mais curta, na existência de um prólogo em prosa, e no tratamento menos profundo e menos erudito do tema amoroso.
“Anfitriões”, publicado em 1587, é uma adaptação do “Amphitryon” de Plauto, onde acentua o carácter cómico do mito de Anfitrião, destacando a omnipotência do amor, que subjuga até os imortais, também seguindo a tradição vicentina. A peça foi escrita em redondilhas menores e faz uso do bilinguismo, empregando o castelhano nas falas do personagem Sósia, um escravo, para assinalar o seu baixo nível social em passagens que chegam ao grotesco, um recurso que aparece nas outras peças também.
O “Filodemo”, composto na Índia e dedicado ao vice-rei Dom Francisco Barreto, é uma comédia de moralidade em cinco actos, de acordo com a divisão clássica, sendo das três a que se manteve mais viva no interesse da crítica pelas muitas experiências humanas e psicológicas que descreve. O tema fala dos amores de um criado, Filodemo, pela filha, Dionisa, do fidalgo em casa de quem serve, com traços autobiográficos. Camões via a comédia como um género secundário, de interesse apenas como um divertimento de circunstância, mas conseguiu resultados significativos transferindo a comicidade dos personagens para a acção e refinando a trama, pelo que apontou um caminho para a renovação da comédia portuguesa. Entretanto, a sua sugestão não foi seguida pelos cultivadores do género que o sucederam.
Capa da edição de 1615 do "Filodemo" |